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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Projecto pretende salvaguardar legado de pescadores conhecidos como "ciganos do rio"

Carregue em cima da foto para poder ampliar e ver o próximo Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça, Mário Santiago
Cultura avieira é candidata

Chegaram em meados do século XIX às margens dos rios Tejo e Sado, oriundos de Vieira de Leiria, e ali se mantêm até hoje. Agora, um projecto de âmbito nacional pretende reconhecer a cultura dos pescadores avieiros como Património Nacional.
De barco ou em carroças, partiram da zona de Vieira de Leiria, fixando-se sazonalmente no Tejo e no Sado, numa área compreendida entre a Chamusca e Grândola. Os pescadores avieiros procuravam o sustento da pesca que não encontravam no Inverno no mar de Vieira de Leiria. Mas um dia deixaram de regressar à aldeia de origem.
É este importante fenómeno migratório e os testemunhos vivos que chegaram até à actualidade - através das bateiras (pequenos barcos) que continuam a ser usadas por aqueles pescadores ou das suas conhecidas casas em palafitas (estacas) - que a Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça (AIDIA) e a Escola Superior da Educação de Santarém (ESES) pretendem candidatar a Património Nacional, já em 2009.
O projecto está a ser desenvolvido há dois anos, com o acompanhamento do Instituto Português de Museus, e aguarda que o Governo regulamente aquele tipo de classificação patrimonial.
"Estamos perante um legado muito rico, de uma comunidade piscatória com uma cultura que é necessário preservar", adiantou, ontem, ao JN, João Serrano, um dos elementos responsáveis pela coordenação do projecto, durante um cruzeiro pelo rio Tejo. O plano prevê ainda a recuperação de alguns dos 14 aglomerados existentes nos estuários do Tejo e do Sado e a criação de um conjunto de ancoradouros no Tejo, tendo sido candidatado ao apoio do Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos.
Segundo Luís Vidigal, da ESES, as habitações sobre palafitas, que ainda resistem em algumas comunidades como o Escaroupim (Salvaterra de Magos) ou na Palhota (Cartaxo), são únicas em toda a Europa. "Há 25 trabalhos neste momento em curso que visam a recuperação deste património como a preservação da memória oral", referiu.
Há pouco mais de um ano, os Arquitectos Sem Fronteiras Portugal (ASFP) associaram-se ao projecto, tendo como função identificar as características arquitectónicas das casas dos pescadores, que eram conhecidos pelas populações vizinhas como os "ciganos do rio", devido às suas migrações sazonais.
Aos voluntários da ASFP caberá delinear um plano de intervenção, que passe pela protecção das edificações em palafita e daquelas em que é prioritário intervir. "Preservar não significa umas casinhas típicas dos avieiros para serem vistas. Não se quer criar nestas aldeias uma espécie de 'Disney dos avieiros', mas resolver alguns problemas como os da habitabilidade das comunidades", explicou Luís Pinto Faria, presidente da ASFP, uma organização não governamental que conta com arquitectos nas suas fileiras, dispostos a ajudarem no planeamento e urbanismo, em áreas economicamente desfavorecidas.
Uma das funções das palafitas consistia em manter a casa acima do limite da água em época de cheias ou subida das marés. Os materiais da estacaria dependiam da zona onde se erguiam as casas, podendo variar entre as madeiras que eram levadas pelo rio ou pedra.
«Jornal de Noticias»

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