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quinta-feira, 22 de julho de 2010

ESTAR NA POLITICA (NECESSARIAMENTE UM BILHETE DE IDA PARA UMA VIDA DE MÁ FAMA?!)


Artigo de Opinião
Por: Anabela Melão

Interrogo-me porque será que aos quarenta e sete anos resolvi enveredar pela militância política.
Importa recordar que estive sempre ligada a carreiras (Inspecção-Geral de Finanças e Tribunal de Contas, designadamente) que – diziam – obrigavam a um comportamento particular e exigiam redobrados cuidados em matéria de ética.
Tudo a propósito de, hoje, se avaliar, ao pormenor exorbitante e decadente até, a vida de quem se dedica à política ou simplesmente exerce um cargo público.
Fala-se muito de ética e de legalidade e coloca-se tudo numa só amalgama. O resultado é que se ouve dizer que fulano praticou um crime, mas depois se diz que, afinal, era um mero ilícito administrativo. Que cometeu esta e aquela ilegalidade e depois se conclui, afinal, pela inexistência de provas para a sua condenação.
A justiça despreza a ética e esta não coincide – segundo se vê – necessariamente com a justiça.
Comunicar aos amigos e à família que se pretende abraçar uma carreira política deve ser dos gestos mais mal vistos que imagino. (No fim de velha, cansou-se de ser séria!) Creio que os crentes me vêm já a caminho do Inferno eu que sempre fui tida como uma provável candidata, no mínimo, ao Purgatório! Há um desconforto que me faz sentir, como que…. inadequada! (Que é feito dos valores e princípios que defendia? Que foi que me passou pela cabeça? Não vais durar muito no meio dos tubarões (eu, tipo golfinho!)). Dou comigo como “peixe fora d’água”. (Ai filha, mas a que propósito!? “Aquilo” não é para gente como “nós”! Endoideceste?! Mas aonde é que te vais meter?)
Só posso ter esperança que a classe política consiga devolver ao povo uma imagem minimamente credibilizadora e acredito que isso só se conseguirá afirmando o primado das ideias e dos valores e combatendo a mediocridade que grassa nas sociedades de massas.
Estar ou ir para a política é meio caminho andado para nos rotularem de bandidos, de vigaristas, de corruptos e um rol infinito de adjectivos menos agradáveis. O poder político tem permeabilizado o enriquecimento ilícito de alguns. E tem de se reconhecer que a imprensa tem um papel fundamental na denúncia de comportamentos tipificados como crime ou ilícitos. Evidente é também que os cidadãos, num Estado de Direito, têm o direito a serem livremente informados de toda a verdade, doa ela a quem doer.
Mas, de cada vez que os tribunais não criminalizam e as sentenças ilibam – tantos e tantos – supostos criminosos, há que indagar se a liberdade de expressão não estará em vias de deixar de ser o bastião defensivo da democracia e de se transformar, tão-somente, em mais um elemento mais corrosivo da própria democracia. O efeito não podia ser mais nefasto e previsível – afasta-se da política quem com ela queira servir. E ficam, para além de por terra a honra de quem foi mal dito e falado, os discursos extremistas e demagógicos, semeando falsas insinuações e acusações. Tudo para alimentar objectivamente a descrença do cidadão comum nas instituições democráticas.
São as "frases assassinas", com um jornalista da CNN, Anderson Cooper, já lhes chamou.
Como se pode apelar à intervenção e a uma democracia participativa do mero cidadão, se a imagem dos políticos “está pelas ruas da amargura”!? Se não se repensarem os limites da liberdade de expressão e se estes persistirem em se esfumar quando se trata de sindicar a vida dos políticos, como se conseguirão aliciar as novas gerações, provindas de gente de bem e com honra, para a carreira política? E se não há democracia sem políticos e sem partidos políticos, há que reconhecer que os políticos têm tanto direito à honra como tem qualquer cidadão comum. Que “as línguas de trapos” têm de se controlar porque “fazer sangue” só porque o alvo faz vender jornais, não tem qualquer tipo de justificação. Até porque, em última instância, quanto mais se falar e menos se provar, mais todos pagaremos avultadas indemnizações aos visados. E essa ligeireza de atitudes e acusações redundarão, não esqueçamos, em pedidos de indemnizações por “erro judiciário”, “falta de prova”, “indícios insuficientes”, e outras causas excluidoras de culpa. E saem de onde? Nem mais nem menos, do que … dos nossos bolsos. A mim também me parece haver por aí algo de enti-ético.

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