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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cadernos de Etnografia e Folclore

Por: Lino Mendes
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Quanto mais lido com grupos de folclore ,menos compreendo a indiferença com que estes são tratados por quem de direito ,numa atitude de lesa-cultura que tem que ser permanentemente denunciada e combatida. E não só pela qualidade e representatividade que os mesmos tenham —e já isso era importante e suficiente —como ainda pela postura que os seus componentes de uma maneira geral têm.
Mas disso não sabem os senhores que na cultura tudo decidem pelo que, e quem sabe, pode ser que nos leiam ,me proponho hoje aqui acompanhar um desses grupos de folclore ,em dia de deslocação a outra região.
Ora venham connosco!
A deslocação é de quatro horas pelo que o almoço é a meio do caminho ---e cada um,se não o levou de casa, paga o seu, .Infelizmente o grupo e como deveria ser, não pode pagá-lo .Claro que um futebolista ,e aqui referimo-nos aos que participam nos distritais ,certamente não o paga ,mas esse come à custa de um orçamento mais gordo e vejam mesmo a nível nacional o que as autarquias dão a uns e dão a outros. O que é esclarecedor.
Mas voltemos ao folclore. Depois do jantar que é norma o grupo anfitrião fornecer ,está o espectáculo, o festival propriamente dito -- e logo a seguir o início do regresso que a casa está longe. Mas o motorista também é humano ,e uma paragem é obrigatória ,normalmente numa “área de serviço” onde outros grupos se vão encontrar (neste dia juntaram-se cinco).E são já quase quatro e meia quando este grupo e neste dia chega a casa.
Mas a história não acaba aqui ,pois há coisas que devem ser conhecidas ,que devem ser divulgadas.
Dois carros nos aguardam já --,são pais de componentes que moram a sete e a dez quilómetros, e foram avisados pelo telemóvel da nossa proximidade .Entretanto ,duas componentes saem apressadas ,pois que pelas sete terão que estar a pé para começarem a trabalhar enquanto um elemento da tocata a essa mesma hora partirá para o hospital onde quatro vezes por semana faz hemodiálise.
E isto é mesmo verdade-- e aqui deixo as minhas homenagens a este homem ,senhor de um querer que nos deslumbra e nos mostra uma permanente alegria e vontade de viver. Aliás, ele e outro companheiro compraram do seu bolso os acordeons com que tocam no Rancho sem nada receber ..Mas isto é outra história que não cabe agora aqui.
No entanto... perante a qualidade e a representatividade destes grupos e uma postura que é preciso ser conhecida, como é possível tanta falta de sensibilidade?
Que esta é a história de um grupo de folclore em dia de deslocação. Mas certamente também, a “história” de muitos outros grupos que ao folclore e à etnografia ,à “cultura tradicional” se dedicam..



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