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sábado, 24 de setembro de 2011

Marques Pais, um homem polivalente

Um alentejano naturalizado ribatejano

Natural de Ponte de Sôr, José João Marques Pais, de 62 anos, há muito tempo que vive em Alpiarça. Casado, com dois filhos e um neto. Reformado da banca, onde atingiu o lugar de gerente, desde 2002, Marques Pais tem tentado preencher o melhor possível o seu tempo disponível.
Quer como escritor, quer como estudante “ando a tirar uma licenciatura em História na Universidade Aberta. Como tenho tempo, gosto pela matéria e necessidade de me aperfeiçoar tecnicamente, meti mãos à obra. Vou tentar terminá-la dentro de dois anos”. O alentejano “naturalizado” ribatejano é um homem polivalente. Bancário, desportista, escritor, político, viajante e escritor são algumas das facetas que o notabilizaram e notabilizam. Foi oficial pára-quedista (alferes miliciano) tendo estado em Moçambique no Batalhão de Caçadores Páraquedistas nº 32, em Nacala.
“Fiz muitas operações por todo o norte de Moçambique com o meu grupo de combate. Fiz segurança à Barragem de Cabora Bassa, quando da sua construção. Fiz várias intervenções por todo o distrito de Tete. Nunca tive nenhum ferido nas tropas sob o meu comando”, salienta, orgulhoso, o ex-alferes Marques Pais.
Embora nunca tenha praticado futebol a nível oficial “só o fiz em associações de bairro” foi, contudo, árbitro: “Fui árbitro do quadro distrital da Associação de Futebol de Santarém e auxiliar do árbitro da 3.ª divisão nacional Agostinho Pereira e, depois, do melhor árbitro nacional, na altura, Alder Dante. Posteriormente passei, como dirigente, pelo Conselho de Arbitragem da AF Santarém e, também, como delegado técnico. A nível de dirigismo fui também vice-presidente da direcção do Club Desportivo “Os Águias” de Alpiarça e presidente da assembleia geral. Permaneci durante muitos anos como membro da secção de futebol, nomeadamente nos escalões jovens”.
Como vê a arbitragem a nível distrital?
E nacional?
Não tenho acompanhado, de perto, a arbitragem a nível distrital. Sei, no entanto, que existem alguns jovens de valor, cujo trabalho tem merecido boas referências. Temos árbitros nas diversas categorias deles com as insígnias da FIFA.
A nível nacional temos bons valores, tão bons como os melhores estrangeiros. A prova disso é que os vemos nomeados para jogos importantes, como tem acontecido com o Olegário Benquerença. Claro que se cometem erros, mas esses erros são na mesma dimensão dos que qualquer agente desportivo comete, seja dirigente, treinador ou jogador. Só que a televisão amplia esses erros, que são aproveitados para esconder a incapacidade de ganhar. Se não houvesse repetição de lances duvidosos, muita discussão acabaria logo ali. Ainda não consegui ouvir ninguém dizer que ganhou por causa do árbitro, ao contrário é o que todos sabemos”.
Marques Pais gosta de viajar por “zonas que me dizem qualquer coisa em termos de história. Portugal, Egipto, Cuba e o seu interior, Turquia, Mongólia, Cazaquistão, Croácia, Bósnia, Montenegro, etc. procuro sempre alguma coisa com história”, explica.
Escritor
“Vale de Cavalos uma terra disputada”, “ Gente de Outro Ver”,”Rafael Duque”, “A História da Igreja de Santo Eustáquio de Alpiarça” e “A história do ciclismo em Alpiarça” são títulos de obras da autoria de Marques Pais, o qual tem em fase muito adiantada um livro sobre “Militares Ribatejanos na 1ª Guerra Mundial”, com a descrição pormenorizada, e quase à hora, daquele que foi um dos maiores desastres do exército português, a Batalha de La Lys. “Ando a fazer pesquisas no Arquivo Militar”. São todas edições do autor “as edições são pagas por mim e pelo seu valor. Nunca tive qualquer subsídio, que nunca pedi. Cada obra tem que valer por ela própria e tem que ser paga pelos leitores que a compra. Foi sempre assim que pensei”, justifica.
À excepção da biografia “Rafael Duque””, político da Chamusca que foi ministro da Agricultura e da Economia de 1936 a 1944 e governador do Banco de Portugal, todas as outras obras estão relacionadas com a história local. “Umas de natureza politica (“Gente de Outro Ver” e “Vale de Cavalos uma terra disputada”), outra sobre o desporto em que Alpiarça é mais conhecida, o ciclismo e o Águias e, finalmente, uma história à volta da construção da Igreja de Santo Eustáquio, cujo produto da venda reverteu a favor do restauro do tecto da referida igreja. Devo referir, como sinal de orgulho, que a biografia de “Rafael Duque” e “Gente de Outro Ver” tiveram referências a nível nacional de personalidades prestigiadas. “A História do Ciclismo em Alpiarça” está em diversas livrarias em França e foi a obra de referência na respectiva modalidade, numa exposição na Biblioteca Nacional sobre livros de desporto”.
Político
Filiado no Partido Socialista, comunga da filosofia que este defende “mas não posso deixar de criticar uma grande parte dos seus dirigentes e da sua actuação. A situação internacional explica muita coisa, mas não explica tudo nesta crise”.
Entre 1997 e 2001, foi vice-presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, sendo presidente Joaquim Rosa do Céu. “Depois fiz um interregno e, em 2006, fui proposto para encabeçar a lista para a junta de freguesia. Desempenhei esse cargo até 2009, altura em que me recandidatei, mas venceu a CDU, situação normal em democracia e que encarei com toda a normalidade”, esclarece.
O que o motivou a candidatar-se a presidente da Junta?
A junta de freguesia, mais do que a Câmara, foi sempre uma autarquia que me apaixonou. É mais intimista, mais afectiva, menos burocrática. O tratamento das pessoas é mais familiar, os problemas a resolver estão mais ligados aos pequenos problemas de cada um. Foram quatro anos riquíssimos, que permitiram recuperar financeiramente a Junta e, ao mesmo tempo, recuperar algum património afectivo para os alpiarcenses, casos do antigo Lavadouro municipal e do cemitério. Obras que foram feitas e pagas integralmente durante o mandato e sem um euro de dívida a qualquer fornecedor da Junta.
Como analisa a classe politica em Portugal?
Penso que o mal está no facto de grande parte dos nossos dirigentes políticos não terem feito uma gestão de empresas ou de vivências no Portugal real. Hoje, os dirigentes como José Sócrates, Passos Coelho, António José Seguro, fizeram o seu percurso político desde as juventudes dos respectivos partidos. Tem sido uma carreira profissional feita no partido e não no Portugal profundo. Isso retira-lhes, no meu entender um saber de experiência feito. Depois fazem a gestão dos dinheiros públicos com uma falta de responsabilidade gritante. Não concebo que seja possível um gestor público receber gratificações exorbitantes em empresas altamente deficitárias. Penso que tem sido uma classe política pouco séria que nos tem levado à ruína e ninguém parece ser responsabilizado por nada. Hoje as pessoas têm muita dificuldade em perceber quem fala verdade e quem mente. Quem quer servir Portugal e quem se quer servir. Veja o caso Fernando Nobre, cujo procedimento foi no sentido contrário àquele que tinha seguido. Eu, por exemplo, votei em Nobre e senti-me defraudado. Possivelmente, como eu, existem milhares de pessoas. Não sabemos, efectivamente, quem é sério, quem nos quer enganar e quem se quer servir de nós. Este é também um drama de muitos portugueses.
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