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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Patacão votada a décadas de abandono


Patacão votada a décadas de abandono
Filhos da terra dão nova vida a aldeia dos pescadores do Tejo

António Petinga e a esposa lembram com saudade a vida sacrificada mas feliz que viveram na palafita junto ao Tejo. Hoje só restam os pilares. Noutras moradias ainda se veem as cores carcomidas das paredes de madeira. Mas está tudo prestes a mudar na histórica aldeia do Patacão.
O grupo de casas da aldeia piscatória do Patacão, em Alpiarça, começa a perder o ar de décadas de abandono e prepara-se para iniciar um longo processo de restauro.
As construções de madeira, apoiadas em pilares para evitar inundações, são testemunho de uma cultura, fruto da migração dos pescadores de Vieira de Leiria para as zonas ribeirinhas do Tejo e do Sado, que se bate por ser reconhecida como património nacional.
Com vários núcleos dispersos, o Patacão é agora alvo de uma intervenção feita, em grande medida, pelos filhos daqueles que migraram em busca de uma vida melhor no início do século XX.
“Hoje contabilizamos 180 dias por homem de trabalho voluntário”, conta João Serrano, um dos responsáveis do projeto da cultura avieira, que dirige o trabalho de mais de uma dezena de pessoas que se juntou para pôr mãos à obra e limpar o Patacão.
Desde 2010 que os responsáveis do projeto, antigos proprietários e descendentes de avieiros, se juntam um sábado por mês para limpar o espaço. Esta foi a primeira fase de um projeto que agora se vai centrar no restauro das casas alinhadas ao longo do dique que as protege contra as cheias do Tejo.
Enquanto António Alfaiate, carpinteiro, acompanhou os arquitetos Carlos Silva e Inês Calouro na visita às duas primeiras casas que vão ser restauradas, João Serrano fez saber que o objetivo é “preservar ao máximo” a traça original.
Construída presumivelmente em 1963, a casa do “Ti Bacalhau” é para ser inaugurada em 2013, quando se assinalarem os seus 50 anos, sublinha Serrano, destacando a particularidade das diferentes cores utilizadas no interior e exterior da moradia, marca identificadora do proprietário.
Preservar cultura avieira
O destino das casas vai ser definido pela comissão executiva do consórcio que se constituiu em torno do projeto da cultura avieira, coordenado pelo Instituto Politécnico de Santarém. No entanto, é já certo que as aldeias palafitas vão integrar o roteiro turístico que está associado ao projeto.
Para que a memória não se perca nas vagas, João Serrano carrega para o carro diferentes objetos, espólio do futuro Museu dos Aveiros.
“Já temos oito embarcações originais”, contou, descrevendo pormenorizadamente as adaptações que os barcos, que durante muitos anos serviram de casa aos avieiros, tiveram de sofrer para a pesca no rio.
Desta vez Serrano leva consigo uma peça de suporte da uma barrica de vinho e uma tampa de cortiça que tem bem visível o sinal que identificava o seu proprietário. “É do Zé Branha”, disse sem hesitar António Petinga, agora com 72 anos, que não esconde a esperança de ver a aldeia recuperada para que quem passa possa dizer “olha ali a aldeia dos pescadores”.
Inês Alves c/ Lusa



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