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quinta-feira, 21 de junho de 2012

A GALINHA DA VIZINHA É MAIS GORDA DO QUE A MINHA

“Porque o Rendimento Social de Inserção, vulgo RSI só insere na parasitagem e na vida fácil.”
“o “pobre" pega no dinheiro do Cheque RSI e vai gastá-lo em cerveja, tabaco, etc...”
“Ensinar essa gente a não desperdiçar, a saber quanto custa 1 refeição e a gerir a sua vida.”
“Quando se vêm mesas recheadas de torradas, tostas, galões, bolos, etc, inevitavelmente pertence a beneficiários do estado social.”
“Solidariedade é ensinar a pescar e não dar o peixe.”
Estes são alguns dos argumentos, uns falsos outros verdadeiros mas não específicos do assunto em questão, usados nestes textos para atacar o RSI. Pelo que conheço e ouço, esta opinião contrária ao RSI é generalizada em Portugal, ao contrário do que se passa noutros países com apoios sociais idênticos. Neste caso, em Portugal, transfere-se a luta de classes para uma luta intraclassista, isto é, aparentemente, a generalidade das pessoas (opinião pública), em vez de se virar contra quem esbanja a riqueza produzida no país em proveito próprio (tráfico de influências, corrupção, parcerias público privadas ruinosas, apoios aos banqueiros, venda de património ao desbarato, …) e nos faz pagar essas dívidas através de impostos, cortes salariais e salários baixos, desemprego, direitos de saúde e educação reduzidos ao mínimo, etc., aponta como alvo os “desgraçados” do RSI, que são 3,6 % da população residente…

Entretanto, gostaria de esclarecer, desde já, que considero a ideia inicial do RSI (então com outro nome) como uma das (poucas) boas medidas dos governos PS.

Por outro lado, acho interessante que o pequeno almoço dos “beneficiários do estado social” seja, quase sempre, o argumento apresentado por quem contesta o RSI. É evidente que não é uma coincidência, mas faz parte dos argumentos de “lavagem cerebral” a cargo dos “fazedores” de opinião pública a soldo do poder político-económico. Estatísticamente, é impossível que todos os que apresentam tal argumento tenham tido essa experiência direta, pelo que se deduz que a “beberam” na mesma única fonte.
Dito isto, convém referir que, evidentemente, poderão existir fraudes e/ou tentativas de fraude por parte de alguns beneficiários do RSI, até porque, grande parte, pertence a uma camada da população com diversos problemas socioeconómicos (famílias desestruturadas, toxicodependentes e outros doentes, desempregados de longa duração com baixas qualificações, idosos, etc., etc.). No entanto, o relatório do 1º semestre de 2011 do CNRSI indica que, por falsas declarações, ocorreu a cessação de apenas 2% dos casos ! Aliás, o motivo mais frequente de cessação do RSI (52,4 %) é a alteração de rendimentos, isto é, o objetivo principal do RSI. De realçar que o RSI é a prestação da Segurança Social mais fiscalizada a nível administrativo e social.

Agora, chegou a hora das contas:
Afinal, para que tanta gente aponte o dedo aos beneficiários do RSI e não aos banqueiros e políticos amigos deles, que são os principais responsáveis por esta crise que nos rouba salário, saúde, educação e mais o resto, que dinheiro recebem mensalmente do estado? De acordo com o citado relatório do 1º semestre do ano passado, “a nível nacional, o valor médio da prestação RSI paga por beneficiário, foi de 88 €”. Ora bem, traduzindo isto em cervejas e tabaco, não chega para 1 maço de tabaco e 1 cerveja por dia… E também tenho dúvidas que chegue para 1 pequeno-almoço por dia…

E quanto recebe um agregado familiar, em média ? Refere o mesmo relatório: “O valor médio da prestação RSI pago por agregado, foi no período em análise de 243 €, menos 5 € que em Junho de 2010”. Bom, a família também não pode ir ao café, diariamente, e ter “mesas recheadas de torradas, tostas, galões, bolos” .
“Ensinar essa gente a não desperdiçar” - “ensinar a pescar e não dar o peixe”. De acordo…

Mas o RSI já prevê ensinar os beneficiários “a pescar” ou equivalente , através da frequência de ações inseridas em “programas de inserção”. De acordo com o relatório em questão “no período em análise regista-se 321.900 de Beneficiários com acordos de inserção assinados, destacando-se os distritos do Porto e Lisboa.” “Do total das acções de inserção frequentadas neste semestre, destacam-se as áreas da acção social e saúde, com um peso percentual de acções ministradas de 35% e 26% respectivamente. As áreas cujas acções registam menor relevância são as da Habitação e Formação Profissional (4%). A área do Emprego assume um peso relativo de 14%.”


O que é um Programa de inserção? É um “conjunto de acções estabelecido por acordo entre os núcleos executivos dos NLI e os Titulares do direito à prestação de RSI e membros dos respectivos agregados familiares, no sentido de criar, de acordo com as respectivas situações, condições facilitadoras do acesso à sua autonomia social e económica.”

Cessações do RSI: por falta à convocatória do Instituto Emprego FP”=1%; por incumprimento do Programa de Inserção após admoestação=5,5 %; falta de celebração de programa de inserção= 7,2%. Como podem ver, com o controlo existente, as situações de incumprimento dos acordos (sem peso relevante em relação ao total dos beneficiários) são penalizadas!

Assim, se querem continuar a bater no RSI e a salvaguardar os banqueiros, é a vossa opção !!! Na realidade, os banqueiros e seus amigos precisam da vossa ajuda!

Por último, o problema da pobreza em Portugal não se resolve com o RSI. O RSI é um apoio social que pretende assumir uma intervenção junto das pessoas que caem na pobreza, através de um pequeno apoio económico e, sobretudo, do acompanhamento de cada situação. A questão de fundo é que Portugal tem uma estrutura socioeconómica desigualitária. Só a criação e redistribuição justa de riqueza pode resolver o problema da pobreza. Mas isso fica para outra altura… 
Por: Zen

1 comentário:

Anónimo disse...

Sr ou Srª Zen,
Faltou aí o dado mais importante de todos:
Quanto custou, quanto vai custar e donde sai o dinheiro.
Justificar um desmando com outros é praia que não frequento.
Evidentemente que no que toca a corrupção, distribuição da riqueza, e mais uma série de pontos que tocou, estou inteiramente de acordo.
Mas, permita-me que lhe diga que a sua defesa dos actuais moldes de atribuição do RSI faz-me lembrar a forma como foram feitas as P/P/P.
Também elas, nos relatórios de suporte, nos power-points, nas justificações económicas, e nos dados estatísticos e previsíveis, apontavam para o paraíso.
Quando fomos ver no terreno, estradas onde se dizia que passariam 100.000 viaturas, passam 1000.
Onde se dizia que seriam cobrados 20 milhões de euros, cobram-se 200.000...
Cá estamos todos para pagar, durante gerações!
Os dados que apresentou do RSI são iguais.
Um paraíso civilizacional que na prática se traduz num inferno para os contribuintes.
Porquê?
Porque quem idealiza e planifica certas medidas políticas vive nos palácios e não tem conhecimento da forma de pensar e agir da plebe.
Por exemplo: Diz que há fiscalização...
Experimente estar num balcão, numa Junta, ou em qualquer sítio onde sejam atribuídos benefícios sociais, e aplique a lei tal como está definida.
Ou, fiscalize "in loco" o tipo de vida dos beneficiários.
Recomendo-lhe que tenha a sua viatura longe, que leve um batalhão dos GOE para o proteger ou que retire os seus descendentes da escola ou do emprego.
É que quando ouvir uma pergunta simples deste tipo: " a sua mulher trabalha no sítio X, não trabalha?" ou "o seu filho anda na escola Y, não anda?" essa gente não está propriamente preocupada com a sua vida privada, asseguro-lhe.
O que faz o fiscal ou a assistente social? Não vê, não ouve, e passa a estar tudo "bem".
Quando disse: “ensinar a pescar e não dar o peixe” é na prática, e através de hábitos diários de trabalho. Cumprindo horários, acompanhando e ajudando profissionais do ofício, aprendendo o que é o verdadeiro mundo laboral.
Os cursos de formação serviram para enriquecer alguns, nomeadamente a maioria ligados a estruturas do PS.
Ponha-se essa gente a ajudar o electricista, o canalizador, o jardineiro, o serralheiro e aí sim aprendem (se quiserem) uma profissão.
Claro que uma medida dessas não interessa aos poderes instituídos. Não dá tachos, não dá directores disto e daquilo, não dá benesses, não dá comissões de qualificação e o dinheiro fácil não corre.
Mas repare que os excelentes profissionais que este País tem foram formados quase gratuitamente a aprender com mestres do ofício e não a frequentar cursos de formação duvidosos.
Desculpe o atrevimento, mas quando o povo que trabalha constata diariamente por todo o País a forma como o RSI é MAL utilizado, e aparecem justificações políticas e relatórios à medida a dizer o contrário, faz lembrar a velha anedota da senhora que foi ao juramento de bandeira e o filho que marchava desordenado dos restantes, "era o único que estava correcto".
Cumprimentos