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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Homenagem a António Malaquias Abalada



Está a decorrer nas redes sociais um “apelo” de amizades para uma homenagem a António Malaquias Abalada ( foto)
 Nas mesmas pode-se ler um pouco da biografia abaixo publicada de “Malaquias Abalada”

"Desde muito novo comecei a trabalhar no campo, a minha família era muito pobre vivia-se abaixo da miséria, no geral todo o povo da minha terra Alpiarça vivia assim.
Quando comecei a entender onde e como vivia dei por mim que nas circunstancias da vida, já me tinham tirado o meu Pai que nunca cheguei a conhecer.
Comecei a perceber que o meu Pai tinha morrido em África, mais concreto em Angola, Malanje.
Porque morreu o meu pai tão longe?
Foi deportado, em 1928 por ter participado numa greve de trabalhadores do campo assalariados. Essa luta por melhores condições de vida e trabalho deu na sua morte, eu nunca perdoei ao regime de então que se transformou no regime de Salazar fascista que durou 48 anos de ditadura até ao 25 de Abril de 1974.

Continuando, a pensar como foi a minha vida, foi igual a alguns e diferente de muitos outros meus camaradas, de infância juventude e de toda a minha vida.

Quando jovem, comecei a entender melhor sobre as relações de trabalho e a exploração que éramos sujeitos.
Mais velho depois de ter saído da tropa, ainda melhor se compreendia as coisas, Trabalhava-mos com um regime de grande exploração, e eu cada vez entendia melhor porquê a deportação do meu Pai, por isso a consequência da sua morte.
Em 1950 os trabalhadores agrícolas de Alpiarça, realizam outra greve idêntica a qual o meu Pai tinha realizado em 1928 (por isso deportado), para reivindicarem aumento de salário, que não ganhavam para o sustento da família.
Na sequência dessa greve, a GNR para tentar dispersar os trabalhadores, começa a agredir e a disparar tiros, matam um trabalhador agrícola Alfredo Lima uma história conhecida em Alpiarça, na sequencia dessa luta a GNR faz diversas prisões uma das quais eu.
Sou preso político pela primeira vez, mas não participei na greve, porque andava a trabalhar fora da terra e só vínhamos a casa de 15 em 15 dias, mesmo assim fui preso não sei muito bem porquê.
Mais uma injustiça, a primeira mataram o meu Pai, por participar numa greve, eu sou preso e não participei na greve.
No desenrolar da vida vai-se formando as pessoas com a sua maneira de ser e de pensar a vivencia cria o ser.
E u vivendo no meu habita-te fui-me formando com os professores da vida como qualquer ser humano, eu mais desperto para a situação da vida pobre que vivíamos, e porque a vivíamos, trabalhando ganhando salários de miséria e por vezes nem trabalho existia.
Por toda esta situação o meu Pai participa numa luta por melhores condições de vida, na sequência foi deportado, e por essa sequência nunca o conheci.
Essa situação leva a que tenhamos mais atenção a exploração que somos vitimas como trabalhadores, isso leva ao desenvolvimento do ser como pessoa, isso leva a não aceitar a exploração que está a ser sujeito com os seus camaradas, e cada vez está mais desperto para a luta, lutar por aquilo que a vida ensina que a exploração deve acabar e todos devem ter condições de vida dignas.
Todo o ser humano deve ter condições dignas de vida, e a sociedade se não fosse egoísta conseguia distribuir o pouco que tem por todos, mas a sociedade capitalista que vivemos afunila os bens e os grandes lucros para uma dúzia deles, em deprimente de muitos milhões que vivem na miséria e outros milhões arruinados.
Só uma sociedade socialista pode socialmente ser mais justa, pode modificar esta sociedade desigual, que muitos acreditam mas está provado a séculos que não conseguem resolver os problemas das pessoas no seu geral.
A luta por condições concretas leva a que as pessoas evoluem no seu sentido da vida, a luta consegue consciencializar, a luta consegue trazer vitórias, a luta forma-nos como homens, só na luta conseguimos os nossos objectivos. Por vezes será necessário muitas lutas, muitos e muitos anos de luta para conseguir objectivos. Por isso muitas pessoas estão a espera de vitórias perto e não vêem no horizonte, que a maior parte das vezes a vitória não está perto.
Milhões e milhões de escravos lutaram e nunca deixaram de ser escravos, mas passados muitos anos a luta levou ao fim da escravidão.
Eu tenho o exemplo da minha vida como revolucionário, sem pertencer a luta foi preso pela primeira vez, a segunda foi porque lutei, a terceira fui porque continuei a lutar, e a quarta e última vez fui porque de novo continuei a lutar. E continuei a lutar quando sai pela última vez da prisão política em 1968, lutei com risco de prisão de novo até ao 25 de Abril de 1974.
Primeira vez sessenta e tal dias, segunda vez cento e trinta dias, terceira vez próximo dos cem dias, a quarta foram quase dois mil dias, mais concretamente cinco anos quatro meses e sete dias.
Privado da liberdade do meu habita-te, dos meus companheiros da minha terra, dos meus amigos, da minha família, da minha esposa e companheira e do meu querido filho.
Durante todo este período não ganhei salário e ninguém mo retribuiu, nem a mim nem aos meus companheiros das prisões políticas, companheiros e camaradas.
O que ganhei ou ganhamos com isso quem lutou e quem teve nas prisões?
Ganhamos a Liberdade, a Democracia, melhores condições de vida e de trabalho, ganhamos o Portugal de Abril. Ganhamos todos, todo o povo.
Pena é que outros aproveitando a liberdade a democracia serviram-se delas para dar o golpe contrário, contra as liberdades a democracia por piores condições de vida e trabalho.
Mas só a luta continuando é que dará de novo a volta a isto, mas para isso é preciso lutar, e as pessoas compreenderem de que lado está a verdade do avanço da história.
(EM BREVE MAIS DADOS).."

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