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domingo, 24 de março de 2013

Desalento no Governo

São cada vez menos os que acreditam que o rumo leva a bom porto, mesmo na bancada do PSD. Ex-colaboradores de Passos na campanha também não poupam críticas. Até Eduardo Catroga.

«Então? Isto está a acabar, não é?». A pergunta retórica, lançada por um membro da maioria num corredor da Assembleia, é a imagem da descrença que se instalou no próprio Governo depois da sétima avaliação da troika. 
As dúvidas que se ouviam esta semana em vários gabinetes do Governo espelham-se numa listagem simples: desemprego provavelmente acima dos 20% já ao dobrar do ano, ausência de ferramentas (ou dinheiro) para estimular a economia e nenhuma margem para baixar a carga fiscal até ao final da legislatura. E, pior, uma total incerteza sobre a evolução da crise do euro, começando pelo descalabro da evolução no Chipre e o que isso pode significar para o ambicionado regresso de Portugal aos mercados. 
Mesmo descontando os efeitos imprevisíveis da decisão do Tribunal Constitucional, já poucos dizem acreditar numa luz ao fundo do túnel – ou seja, em chegar-se ao final da legislatura com um mínimo de hipóteses de vitória. 
No CDS, o estado de espírito é conhecido: se Vítor Gaspar for Deus, os centristas são agnósticos. A novidade agora é que estão acompanhados por boa parte do PSD. Na audição parlamentar de terça-feira, o deputado social-democrata Miguel Frasquilho nem hesitou na pergunta a Gaspar: «Era importante que se começasse a libertar a asfixia fiscal que recai sobre a sociedade portuguesa. Será possível avançar nesse caminho?». Ficou sem resposta. 
«Expliquem aos vossos eleitores», pediu Gaspar 
Horas depois, na reunião à porta fechada com os deputados da maioria, o ministro fez-lhes uma sugestão: expliquem «aos vossos eleitores» a situação do país. Foi o suficiente para que dois deputados sociais-democratas, incluindo o líder da JSD, disparassem: «Nossos? Também são os seus!». 
Nessa reunião, segundo depoimentos cruzados pelo SOL, Vítor Gaspar reconheceu que a divulgação dos resultados da negociação com a troika foi mal recebida. Justificação: «O PS foi bem sucedido ao passar a sua mensagem de que o Governo tinha falhado os objectivos». À saída, um deputado sintetizava o espírito do encontro: «Antes, dizia-se que o Gaspar tinha uma obsessão, agora é uma questão de fé». 
Será um exagero dizer que Gaspar e Passos Coelho já não têm seguidores na bancada do PSD. Mas é correcto dizer-se que esse núcleo é cada vez mais pequeno. «O grande problema é este crescimento do desemprego. É de tal forma drástico que tudo o resto fica suplantado, mesmo as coisas muito boas e difíceis que o Governo conseguiu», diz Teresa Leal Coelho, vice do grupo parlamentar. 
Fora do hemiciclo, também escasseiam os defensores. Esta semana Miguel Beleza foi excepção, oferecendo-se na TSF para ajudar Gaspar no que quisesse. Sobram ainda vozes como António Borges, João César das Neves ou Braga de Macedo (que não respondeu às perguntas do SOL esta semana). 
Daniel Bessa, que colaborou com Passos na campanha eleitoral, diz agora que o país está a tentar, tão-somente e de forma desesperada, «evitar declarar a falência». Loureiro dos Santos, que também esteve no início do caminho de Passos, pediu já a Cavaco (no Público, na segunda-feira) que demita o Governo. 
Quanto a Eduardo Catroga, que coordenou o programa eleitoral, mostra-se céptico, em declarações ao SOL: «O Governo, mal se tornou bom aluno, devia ter-se tornado um bom aluno refilão». Ou seja: ao fim de três avaliações da troika, devia ter pedido uma mudança do memorando, corrigindo o ritmo do ajustamento e abrindo espaço a incentivos ao crescimento. «O barco ainda não está a salvo», avisa. 
Quanto ao novo argumento usado, de criticar o memorando inicial, há no Governo quem ache que é «tarde» para o usar. «Agora, é muito difícil», diz uma fonte

«SOL»

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