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sexta-feira, 26 de abril de 2013

O discurso do "25 de Abril" de Fernando Ramalho

Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça,

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça,

Exmos. Senhores Vereadores,
Exmos. Senhores Deputados Municipais,
Exma. Senhora Presidente da Junta de Freguesia de Alpiarça,
Exmos. Senhores membros da Assembleia de Freguesia de Alpiarça

Minhas Senhores e Meus Senhores,

Mais uma vez celebramos o 25 de Abril de 1974 e a Liberdade,
Queria aproveitar esta ocasião para compartilhar convosco alguma reflexão sobre a realidade Alpiarcense durante os longos anos da ditadura do Estado Novo. Dados os trinta e nove anos decorridos desde o 25 de Abril, é natural que mais de metade da nossa população não tenha recordação daqueles tempos, ou porque ainda não era nascida ou, como eu próprio, era ainda demasiado jovem.

Nesses tempos de má memória o Presidente da Câmara não era eleito pelo povo. Era escolhido pelo Governo e dependia da confiança permanente desse governo para se manter no cargo. Em vez de ser um autarca representante da comunidade local, não passava de um funcionário do Governo, recebendo como qualquer outro funcionário ordens e instruções que tinha de cumprir, mesmo quando essas ordens eram objectivamente contrárias aos interesses e aspirações da população. No desempenho do cargo e até na sua vida privada o Presidente da Câmara tinha de assumir comportamentos e atitudes que não pudessem ser entendidas como apoio ou simpatia pela oposição ou pelos oposicionistas conhecidos.

O Governo tinha ao seu dispor um instrumento de vigilância e coacção para garantir que os funcionários públicos obedecessem cegamente às ordens vindas de cima e que não se afastassem do modelo de pensar ou agir que o estado achava ser o correcto. Este instrumento chamava-se PIDE.

Os agentes da PIDE tinham por missão, entre outras coisas sinistras, vigiarem as actividades de todos os cidadãos elaborando relatórios sobre tudo o que se passava: Com quem é que determinada pessoa falou, com quem jantou, se sorriu para aquele, se fez má cara a outro, onde foi e o que disse, etc. etc.. Não escapavam à vigilância os próprios Presidentes e outros membros das Câmaras e Freguesias. Ai de um Presidente que ousasse, por exemplo almoçar em público, com um oposicionista conhecido. Mesmo que esse oposicionista fosse seu amigo de infância ou até familiar. Era certo e seguro que a informação chegava lá acima e o Presidente teria de justificar esse encontro e denunciar tudo o que lá foi dito. Se a justificação não agradasse ou se continuasse a existir qualquer suspeita era certo e sabido que Presidente cairia em desgraça.

Os agentes da PIDE eram os CONTROLEIROS da altura.

Alpiarça tinha a singularidade de ser a única sede de concelho, com excepção da capital de Distrito, com uma delegação permanente da PIDE.

Como se compreende o controlo exercido pelos controleiros tornava o clima irrespirável. As pessoas sentiam-se constrangidas e não eram livres. Onde há controleiros ou controladores não há liberdade.
Os Portugueses, como povo criativo e inconformado que é, desde cedo arranjaram formas de tornar o ar mais respirável e de alguma forma aliviar aquele chumbo pesado que tudo abafava. Foi o caso do Teatro de revista, onde, com brejeirice e algum engenho para escapar aos mentecaptos da censura controleira, sempre se iam dizendo algumas verdades ou colocadas a nu as prepotências do regime.

No entanto, onde foi possível criar uma esfera de maior liberdade, foi nas associações desportivas, culturais e recreativas, que nasceram como cogumelos em Portugal. Nestas associações o controlo da polícia e dos bufos de serviço, nunca conseguiu de forma completa por cobro à expressão da liberdade dos seus associados.

Vem isto a propósito da homenagem que hoje prestamos aos “Àguias de Alpiarça” e á “Sociedade Filarmónica Alpiarcense 1º de Dezembro”. Estas instituições da nossa Terra foram verdadeiros faróis de liberdade, no meio do denso nevoeiro. Aqui não havia controleiros. Todos podiam ser sócios, todos podiam votar e todos eram iguais. Para constatar como estas instituições conseguiam fugir ao colete repressor e conformador, basta atentar na lista dos Alpiarcenses que ao longo dos anos, por voto dos sócios, foram desempenhando cargos dirigentes. Encontram-se ali vários nomes claramente ligados à oposição anti salazarista.

Alías, a verdadeira grandeza dos clubes e associações era serem livres das tutelas do regime e só nesta condição conseguiam engrandecer-se e tornarem-se verdadeiramente populares. Alguns clubes de futebol, devido ao facto de serem tidos como de todos e não do regime politico, atingiram estatuto nacional, como seja o Sport Lisboa e Benfica. Se fossem clubes do regime ou tidos como do regime talvez não tivessem a grandeza que hoje têm.

Isto não quer dizer que os da situação não tivessem lugar. Todos sabemos, que os Águias de Alpiarça, muito deve a pessoas que claramente eram afectas ao regime, no entanto elas aqui eram antes de tudo alpiarcenses como os demais.

Ainda era uma criança mas recordo-me bem dos tempos da construção desta sede magnifica que é a dos “Águias”. Recordo-me do orgulho que se sentia nesta Terra, nos ricos e nos pobres, nos letrados e nos analfabetos, nos jovens e nos idosos, nos crentes e nos ateus, por ser possível erigir este edifício, que desde essa altura é um verdadeiro monumento à união das gentes de Alpiarça.

A propósito da inauguração desta grande sede não posso aqui deixar de recordar o grande amigo de Alpiarça que nessa ocasião era o Presidente da Direcção dos “Águias” –António Veiga.

Por terem sido desde a sua fundação santuários de Liberdade, as associações que hoje homenageamos, tornaram-se verdadeiramente merecedoras do nosso respeito e admiração, sendo dever de todos nós alpiarcenses continuar a lutar para que estas instituições permaneçam livres de controleiros.

Neste ano homenageamos igualmente, por deliberação unanime, da Assembleia Municipal, o insigne Alpiarcense – Dr. Hermínio Duarte Paciência. Verdadeiro João Semana. Também me recordo do carinho com que o seu nome era referenciado na minha casa. Meu pai, filho de pobres camponeses, teve a sua primeira consulta de oftalmologia dada pelo Dr. Hermínio. Não foram aqueles gestos de abnegação e solidariedade seria impossível a muita gente de Alpiarça obter qualquer assistência médica.

O Dr. Herminio para além de homem impoluto e generoso foi um grande resistente anti fascista, provando, ao contrário do que nos querem fazer acreditar, que a resistência ao salazarismo na nossa terra não foi feita apenas por um partido.

Alpiarcenses,

Aproximam-se tempos muito difíceis para Alpiarça.

Mais cedo ou mais tarde vamos ser confrontados com propostas de um novo traçado das fronteiras autárquicas. O que se vai ouvindo acerca do encerramento das Finanças, dos serviços de registo e notariado, da Segurança Social e dos Correios não pressagia nada de bom.

Para não sermos surpreendidos com decisões que afectem gravemente o nosso futuro colectivo é urgente começar desde já a prevenir, e isto faz-se, essencialmente, com mais desenvolvimento económico, com a fixação dos jovens no nosso concelho e com a atracção de novos residentes.

Para isso é necessária uma nova visão, uma nova estratégia e o empenho de todos.
   
Certamente vamos conseguir.



Viva o 25 de Abril!
Viva Alpiarça!
Viva Portugal!

6 comentários:

Anónimo disse...

Um discurso falso como falsos foram os socialistas depois do 25 de Novembro 2013.
AS VERDADES SÃO PARA SE DIZEREM:
Barómetro Economia e Justiça estavam de melhor saúde antes do 25 de Novembro de 1975
De acordo com o barómetro i/Pitagórica, os portugueses consideram que tanto a prosperidade económica do País, como a Justiça estão hoje em dia piores do que antes do 25 de Novembro de 1975. Também a democracia em Portugal recebe nota negativa por parte dos inquiridos: 41,5% dos mesmos classificam-na de "má".
DR ECONOMIA
09:32 - 25 de Abril de 2013 | Por Notícias Ao Minuto



Comparando os dias actuais com aqueles anteriores ao 25 de Novembrode 1975, 56,7% dos portugueses considera que a prosperidade económica do País piorou, e 49,1% têm opinião análoga no que à justiça portuguesa diz respeito.

Estes são os números apontados pelo Barómetro i/Pitagórica, sendo que o mesmo inquérito diagnostica ainda uma saúde muito débil da democracia nacional: 41,5% dos inquiridos entende que a democracia em Portugal é “má” e 41,8% acha mesmo que é pior do que a dos outros territórios que integram a União Europeia.

Em sentido contrário, para 45,5% dos portugueses a Segurança Social sofreu uma melhoria face aos dias em que vigorava o Estado Novo. Ao mesmo tempo, 51,4% considera que também a Educação está melhor, bem como a Saúde (60,7%).

Saliente-se que este estudo de opinião foi levado a cabo entre os dias 17 e 20 de Abril de 2013, tendo sido validadas 503 entrevistas.

Anónimo disse...

Gostei muito de ouvir este discurso e o do Mario Santiago. As verdades devem ser ditas e cada um que enfie a carapuça.

O discurso do Marco Caichamina foi muito mau e nem se soube apresentar com dignidade com a gravata toda desapertada e sem postura.

O do homem do PSD foi um discurso normal, nada de genial, mas com excertos interessantes.

O do Presidente da Câmara, é aquilo a que infelizmente as pessoas chamam de cassete mas só por culpa de quem escreve aqueles discursos e não muda o conteudo. É uma pena o pessoal do PCP ter que estar agarrado a discursos que cheiram a mofo e que já não empolgam ninguem.

Aquilo não era um comicio pelo que o discurso poderia ter sido menos soviético.

Anónimo disse...

Um discurso que não merece comentários, a não ser dizer que é ofensivo para com pessoas honestas que trabalham para os partidos na defesa de uma sociedade mais justa. No PS também há, felizmente, pessoas destas.

Anónimo disse...

Os discursos do presidente da câmara são escritos pelo presidente da câmara. Tomara você e os que defende saberem fazer um ao menos próximo do dele em qualidade e conteúdo. Não tem comparação. É um discurso com elevação. Nada disto que leio nestes que defende.

Anónimo disse...

Sobre os discursos fica aqui uma fábula que espero que os apoiantes cegos entendam...

"A CORUJA E A ÁGUIA (Monteiro Lobato) Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
- Basta de guerra - disse a coruja. O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
- Perfeitamente - respondeu a águia. - Também eu não quero outra coisa.
- Nesse caso combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
- Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
- Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
- Está feito! - concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
- Horríveis bichos! - disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.

- Quê? - disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...

Anónimo disse...

O Dr.Ramalho até falou bem mas devia também falar do controleiro da mãozinha.