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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Fim do papel e estruturas digitais pequenas são as tendências para o futuro

Os jornais em papel têm os dias contados, defende um dos fundadores do Jornal de Negócios Diogo Madeira, enquanto Luís Delgado, criador do Diário Digital, considera que os projetos exclusivamente digitais só sobrevivem se tiverem estruturas pequenas.
Num ano em que se aguardam novidades sobre os media na Internet em Portugal, com o reforço do Expresso nos conteúdos 'online' e o lançamento do Observador, a Lusa falou com dois fundadores de projetos digitais lançados há mais de uma década sobre os desafios do setor.
Para Diogo Madeira, um dos fundadores do Jornal de Negócios, os jornais em papel têm os dias contados.
"Acho que os jornais em papel têm uma tendência para desaparecer. A curva de vendas continua a descer, além disso têm um custo adicional fixo que o digital não tem".
Já para Luís Delgado, fundador do Diário Digital, os media exlusivamente 'online' portugueses só poderão sobreviver com estruturas pequenas.
"A publicidade na Internet é residual, nunca se compara com a televisão ou com os órgãos em papel", disse, acrescentando que a sua perceção aponta para que os projetos exclusivamente digitais sejam "pequenos e com poucos custos", já que "não conseguem concorrer com grandes jornais com equipas 'online".
Além disso, acrescentou, "Portugal não tem escala" para conteúdos em português, já que o Brasil "não tem interesse" e os restantes países de língua oficial portuguesa "ainda não têm escala", justificou.
"Somos 10 milhões [em Portugal], dos quais cinco milhões com idade elevada, que não acedem ou não têm Internet", a outra metade "tem [Internet], acede e consulta, mas "tradicionalmente não quer pagar", salientou Luís Delgado, sublinhando que a "Net permitiu canibalizar todo o tipo de informação".
Luís Delgado disse acreditar que dentro de alguns anos o papel seja "um nicho de alto valor".
Criado em novembro de 1997, primeiro na Internet e dois meses depois em papel, o Jornal de Negócios foi um projeto pioneiro na área da informação económica.
"Avançámos primeiro na Internet porque foi mais fácil montar", disse Diogo Madeira, que lembrou que "o 'core' eram as cotações" da bolsa em tempo real, o que ajudou a captar leitores.
"Na altura fizemos a primeira campanha de publicidade 'online' do Banco7", do grupo BCP, recordou Diogo Madeira, apontando que nos primeiros anos de vida a publicidade na Internet correu bem porque era dividida "por quatro a cinco meios 'online'".
Também para Luís Delgado, os primeiros anos do Diário Digital, lançado em 1999 e pioneiro enquanto jornal generalista exclusivamente 'online', foram positivos em termos de publicidade.
"Depois começaram a surgir outros projetos, os órgãos de comunicação tradicionais começaram a olhar para a Net, a investir e o Diário Digital começou a ressentir-se", já que a publicidade 'online' começou a ser dividida.
Igual situação aconteceu no Jornal de Negócios, com o título a avançar para as assinaturas digitais, "onde até foi pioneiro", acrescentou.
Diogo Madeira destacou quatro desafios para os media: as assinaturas digitais, o micropagamento, as parcerias com empresas de descontos e a nova tendência internacional de sítios 'online' de 'brokers'.
Sobre as assinaturas digitais, Diogo Madeira sublinhou que em Portugal "as pessoas não querem pagar mensalidades": primeiro porque estão a cortar nas despesas e, por outro, o mercado português é pequeno.
A alternativa, disse, pode passar pelo micropagamento, que permite ao leitor pagar apenas os artigos lidos. Aqui, um dos constrangimentos assenta no valor das taxas cobradas pelos cartões de crédito na intermediação. Contudo, o pagamento por cada artigo "tem estado a crescer e é uma tendência", sublinhou.
Outro dos fenómenos detetados, apontou Diogo Madeira, são as parcerias dos meios de comunicação social com sítios de descontos, em que os media ganham uma percentagem sobre o negócio gerado.
"A media 'online' está a usar bem a parceria com empresas de descontos", disse.
O quarto desafio, identificado a nível internacional, são os sítios de informação criados por 'brokers', ou seja, intermediários entre quem escreve os artigos e o público.
Neste caso, os projetos 'online' têm um número reduzidos de jornalistas e apostam em colunistas, resultando em plataformas de intermediação entre produtores e consumidores. Os colunistas são renumerados mediante uma percentagem sobre o número de visualizações dos seus textos.
"O mundo da Internet muda a forma de consumo. Esta tendência subverte o negócio dos media, mas está a acontecer e implica um modelo flexível", acrescentou Diogo Madeira, apontando que "as novas gerações estão mais confortáveis com o digital do que com o papel".
Se tivesse de lançar hoje o Jornal de Negócios, Diogo Madeira é perentório: "Seria só na Net, com versão mobile [para dispositivos móveis]".
«Lusa»

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