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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Um fim de semana com um copo cheio de coisa nenhuma e uma mão vazia de coisa alguma

Por: Anabela Melão
As conclusões (!?) do Congresso laranja, a aliança de Fernando Costa (PSD) com a CDU em Loures e a confessada "esperança de que um dia (Bernardino Soares) deixe de ser comunista" e o anúncio da escolha de Assis para encabeçar a lista para as europeias, fazem-me lembrar a frase escrita por Scott Fitzgerald numa época ainda mais obscura do que a nossa (1936): “One should be able to see that things are hopeless and yet be determined to make them otherwise.” Já não somos um País de utópicos, vão-se os cérebros, mas eis-nos cheios de cabeçudos. Estamos governados! 
Ainda sobre o Congresso do PSD. Quem menospreza a inteligência verbal do Marcelo não entende nada de política. Os congressistas já se preparavam para ir jantar quando ouviram anunciar que Marcelo era o próximo orador e voltaram para ouvir o momento mais emotivo e divertido do congresso. “Estou velho para isto”, começou Marcelo, encantado com a energia de Paulo Rangel – “este homem é excepcional!” - que tinha sido apresentado como cabeça de lista às europeias. Falando num tom entre o emotivo e o irónico, Marcelo distribuiu farpas e elogios. Entre aplausos e gargalhadas, os congressistas ouviram-no dizer de Passos Coelho, que a sua frieza e racionalidade “é muito irritante” e que é “irritantemente longo” e tem pouca apetência por dar boas notícias ao país.
Paulo Portas foi caricaturado por esperar que o dia a seguir ao fim da intervenção da troika seja um novo 1640. “No dia 18 de Maio os portugueses não abrem a janela a dizer ‘isto é um país novo’”.  
“Vim aqui por uma razão afectiva”, repetiu e disse: “Isto vai ser mal interpretado, parece que te estás a fazer a qualquer coisa”. Mais risos.
Não se ficou pelo registo emotivo. “Já que vim queria dizer três ou quatro coisas racionais”. Uma delas é que o PSD “continua a ser um partido livre”. “Eu sou a maior prova disso, quando falo todos os domingos”, ironizou.  “Já todos levámos pancada. Queixam-se muito do Pacheco Pereira, que é inteligente, eu já levei pancada dele e também já dei pancada nele”.
A democracia interna é uma das forças do PSD, sublinhou. Uma democracia que possibilita que quem saia do partido – como Rui Machete, sentado na primeira fila, que o professor apontou como exemplo dessa tolerância – possa voltar.
Marcelo passou para um registo sério apelando ao entendimentos a seguir às europeias, “entre Junho de 2014 e a Primavera de 2015”. Deixar passar este período levará a “improvisar consensos” com custos para o país.
Criticou as “hesitações de Seguro” e o erro de não ter percebido mais cedo que teria que negociar. “Foi o erro de António José Seguro. Se tivesse delimitado zonas de consenso não tinha de ser António Costa a vir dizer que são precisos consensos”. Marcelo diz que Seguro tem ainda “uma nova oportunidade”. “Não há razões eleitorais que impeçam de se sentar à mesa. Tem de sentar”.
Há falta de humor nos discursos políticos nacionais, cimentando a sensaboria politiqueira nacional. Por insegurança (parente próxima da arrogância), os políticos portugueses levam-se demasiado a sério, não sabem lidar com a ironia, tementes que essa desmascare a sua insegurança e impreparação. Este sinal de inteligência foi o sopro de ar fresco do Congresso. Definitivamente, Marcelo dá dez-a-zero ao melhor especialista em marketing político. Goste-se ou não, marcou pontos. Oratória impecável. Humor britânico impecável a denunciar a educação recebida e a cultura acumulada. Fair-play a mostrar que não se limita a "andar por aí" e que ainda vai a mergulhos ao Tejo, que o Guincho habituou ao frio das águas e à rebentação das ondas. Não se sabe para onde vai e é isso que ainda o faz um sobrevivente da massa crítica interna do PSD. E ao apelar à democracia e à "generosidade" interna mata todos os coelhos de uma só cajadada, como que a dizer: se me expulsam provam que não a têm. Avisos internos feitos de sopetão, com ironia cortante, a dar ânimo ao cinzentismo  da política nacional. E assim se lançou um novo mito na iconografia laranja: depois de Aníbal Cavaco Silva a rodar o Citroën no congresso de 1985, eis o candidato presidencial Marcelo a descobrir a estrada de Damasco capaz de conduzi-lo a Belém, via Coliseu dos Recreios, enquanto seguia de táxi na Segunda Circular... Brilhante! Estratégico e táctico, como só ele! Goste-se ou não se goste! 

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