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sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 Abril. Ex-presos políticos lembram a ditadura e a tortura da PIDE "No limite da dor”


"O descrédito da classe política e o desgaste dos partidos, que hoje é patente, noutras épocas redundaram em ditaduras ferozes, que é absolutamente necessário combater", argumentam
A obra "No limite da dor. A tortura nas prisões da PIDE", de Ana Aranha e Carlos Ademar, tem por objetivo, segundo os seus autores, ser “um antídoto” contra quem defende “a instauração de um Estado totalitário”.
"No limite da dor" começou por ser um programa radiofónico semanal, emitido este ano na RDP-Antena1, com entrevistas a antigos presos políticos, homens e mulheres de todas as condições sociais, e é apresentada domingo, no Forte de Peniche, antiga cadeia de presos políticos.
Como afirma no prefácio a historiadora Irene Flunser Pimentel, parecia-lhe que "chegara o momento de muitos ex-presos desejarem voltar a falar do que sofreram ou falarem pela primeira vez" e daí ter incentivado Ana Aranha ao projeto.
Flunser Pimental defende que "chegou o tempo de finalmente se tratar deste assunto, quer para atenuar a dor dos que sofreram [a prisão por motivos políticos], quer para a manter na memória dos portugueses".
A historiadora, citando alguns dos depoimentos, agora registados neste livro, afirma que "quase todos consideram que ‘a Revolução foi tão branda, tão branda', que deixou impunes ‘os pides', como reconhece Monteiro Matias", um dos entrevistados.
Outros testemunhos criticam o facto de os agentes da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), a polícia política da ditadura, terem sido reintegrados na Função Pública, sem terem sido julgados – e isto “quando se sabe que qualquer criminoso para ser ressocializado tem de tomar consciência daquilo que fez e para tomar consciência tem de ser punido", escreve Pimentel.
Enquadrando a obra na atualidade, quando "se fala cada vez mais em defesa do ‘antigamente', referindo-se à ditadura derrubada a 25 de Abril", e "ganham auréola de heroicidade alguns políticos de então", nomeadamente António de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, os autores recordam que foram nestes tempos que se criou e fortaleceu a polícia política - a PIDE -, seguindo as palavras de Salazar, que defendia "'um safanão dado a tempo', como medida preventiva para manter o povo em remanso".
"O Estado Novo [ditadura que vigorou até abril de 1974] foi um tempo de trevas que é imperioso não esquecer", enfatizam os autores.
Para Ana Aranha e Carlos Ademar, "as propostas que nos vão chegando não auguram nada de bom".
"O descrédito da classe política e o desgaste dos partidos, que hoje é patente, noutras épocas redundaram em ditaduras ferozes, que é absolutamente necessário combater", argumentam.
Os autores deixam um alerta: "Esta tirania financeira que governa os nossos dias pode conduzir-nos a outra que pode arrastar consequências semelhantes às relatadas pelos nossos entrevistados".
Ana Aranha e Carlos Ademar afirmam que esta obra "não leva apenas ao leitor os episódios de desumanidade contados por quem os sofreu às mãos da polícia política" de Salazar e Caetano, e consideram-na "um antídoto contra quem defende que a solução dos problemas de hoje passa pela instauração de um Estado totalitário", como aquele que os Capitães de Abril derrubaram há 40 anos.
A apresentação da obra no Forte de Peniche, insere-se nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e da libertação dos presos políticos.
"Vai ser um dia de festa e de homenagem aos que lutaram e sofreram pela liberdade", atesta a Parsifal, a editora que chancela a obra.
A sessão de apresentação tem início domingo, às 17:00
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1 comentário:

Anónimo disse...

Dá nos a impressão que só os que se deixaram prender pelos fascistas é que tem todo o valor...e aqueles que com risco da própria vida e a dos camaradas e que sempre conseguiram fugir? E houve alguns em Alpiarça.