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terça-feira, 22 de abril de 2014

Ceia da Silva: ‘Alentejo e Ribatejo são marcas completamente distintas’

O presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, que agrega, desde 2012, também parte do distrito de Santarém, revela, em entrevista ao Tinta Fresca, os pontos fortes desta vasta região situada entre o Oeste e o Algarve, onde a beleza da paisagem, o património arqueológico, o turismo de natureza, a gastronomia, o Tejo, o touro e o cavalo são os principais símbolos identitários. António Ceia da Silva, técnico de turismo de formação, considera que o Alentejo e Ribatejo são dois destinos e duas marcas completamente distintas, com enormes recursos turísticos que merecem ser trabalhados.
Com  formação inicial académica na área do Direito, mas com formação na área de turismo concluída nos últimos anos, António Ceia da Silva está ligado ao setor turístico há 30 anos. “Eu sou um homem que vive turismo, costumo dizer que o meu partido é o turismo, a minha vivência é o turismo. Considero-me um técnico de turismo que assume as funções de presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo”, sublinha.

   Tinta Fresca – Como é trabalhar duas realidades turísticas como o Alentejo e o Ribatejo?
Ceia da Silva -
 É muito interessante trabalhar duas realidades turísticas diferentes. É uma experiência nova que me tem proporcionado os melhores momentos do ponto de vista profissional ao longo destes seis meses de trabalho com esta região, a interagir com o território, os agentes, os empresários e os autarcas.

Desde a primeira hora que assumimos que é uma Entidade, mas dois destinos e duas marcas completamente distintas. Alentejo é Alentejo e Ribatejo é Ribatejo. Temos procurado envolver todos os agentes da zona. Já visitámos os concelhos todos da região, e temos como objetivo um contato muito estreito entre Entidade de Turismo, autarcas e empresários.

Foi interessante verificar que esta zona é uma zona com enormes potencialidades. As primeiras pessoas que têm de valorizar o território e ter autoestima são aqueles que habitam no território e esse trabalho começa exatamente pelos habitantes da região, que têm de considerar que a sua região é uma zona bonita, com potencialidades e não pensar que a dos outros é melhor. Temos vindo a incutir nas pessoas essa tarefa de valorizar as regiões.

   Tinta Fresca – Que projetos já foram concretizados? 
Ceia da Silva - 
Do ponto de vista de comunicação, criámos o site Visite Ribatejo http://www.visitribatejo.pt/pt/. Estamos a criar uma nova base de dados e um banco de imagens do território, que nos vai permitir elaborar folhetos concelhios, filmes, vários spots de comunicação, entre outros.

   Tinta Fresca – Que os projetos irão ser desenvolvidos futuramente?
Ceia da Silva –
 Temos em estudo um projeto de cultura avieira e outro de falcoaria. A nível da valorização e da estratégia de transformação de recursos em produtos turísticos, apresentámos já o Plano Operacional para o Turismo Náutico, que terá o centro nevrálgico no Rio Tejo. O Rio Tejo é o eixo fundamental nas dinâmicas e nos recursos turísticos do território e pode ser uma âncora fundamental nesta zona.

Em relação à gastronomia, temos em desenvolvimento até ao final do ano um trabalho de reestruturação da carta gastronómica do Ribatejo e também a certificação dos restaurantes. Numa terceira fase, queremos fazer roteiros gastronómicos, roteiros da terra ao prato que possam levar o turista a visitar uma quinta, onde podem ver como funciona a produção de um determinado produto e depois apreciar a gastronomia do local. Ou seja, pretendemos associar também a componente agrícola ao turismo.
Por outro lado, estamos a trabalhar em torno do turismo equestre. Em maio, na Golegã iremos realizar uma primeira reunião para anunciar o Cavalo e o Toiro como ex-libris desta região.

Estamos também a estudar e a criar documentos operacionais estratégicos para projetos a desenvolver no próximo QREN. Também temos projetos na área do Turismo de Natureza, com projetos de birdwatching, cicloturismo, BTT ou percursos pedestres. Estamos a concluir uma primeira fase de abordagem, de esquematização do trabalho, para podermos cimentar nos próximos anos e infraestruturar o território de produtos e marcas. 

   Tinta Fresca – O que falta na sua opinião nesta região para ter o produto turístico ideal?

Ceia da Silva – Eu estou satisfeito com os recursos, aliás, esses mesmos recursos surpreenderam-me muito positivamente. Esta é uma região muito interessante, com recursos turísticos que merecem ser trabalhados, agora é preciso criar produtos turísticos, estruturar as ofertas, criar pacotes turísticos, afirmar a marca. Esse é um trabalho diário e diria que estou sempre insatisfeito porque quero sempre fazer melhor.

Tinta Fresca – Qual é a estratégia de promoção da região? Quais os mercados em que vão apostar?
Ceia da Silva –
 Nós não trabalhamos mercados externos, isso é da competência da Agência de Turismo. A nós compete-nos o mercado nacional, reestruturar produto, trabalhar a sistematização de oferta, a marca, o branding, toda a montagem da estratégia turística, o planeamento turístico, a sinalética. Não nos compete a promoção externa, que compete à Agência, que irá também começar a trabalhar brevemente no território.

Tinta Fresca – Quais são os principais pontos fortes da região?
Ceia da Silva –
 O ponto número um é a questão da identidade, porque o que vende hoje em dia não é o melhor castelo, o que vende é aquilo que é único. Este território tem uma identidade muito forte. O Ribatejo tem a identidade mais forte do país, associada ao touro, ao campino, associada à terra, ao cavalo, há uma identidade muito forte de tradições e de valores.

Em segundo lugar toda a componente de riqueza ambiental, ancorada no Tejo, no turismo de natureza, e num conjunto de outras valias muito interessantes como por exemplo as Salinas de Rio Maior, que considero um ex-libris desta região. É de facto uma riqueza ímpar.

Em terceiro lugar, a componente do património que tem um papel muito importante, nomeadamente no turismo religioso, tendo nesta área Santarém um peso muito forte.

Depois temos também toda uma componente associada aos recursos endógenos, a componente agroalimentar, a componente de ligação do desenvolvimento rural à dinâmica do turismo, com o aproveitamento de sinergias na área dos roteiros endo-gastronómicos.

Por fim, temos de valorizar muito a animação turística, que será fundamental para aumentar a taxa de permanência dos turistas na região.

   A região do Turismo do Alentejo

O Alentejo situa-se no sul de Portugal, entre o rio Tejo e o Algarve. A leste faz fronteira com Espanha e a oeste é banhado pelo Oceano Atlântico. É uma extensa região, essencialmente rural e escassamente povoada, que ocupa cerca de um terço do território nacional. A beleza da paisagem e a qualidade do seu património arqueológico, monumental, arquitetónico e etnográfico, a par da excelência da sua gastronomia e vinhos, conferem-lhe condições de exceção para uma descoberta que associe o turismo de natureza e o turismo cultural.

Fazem parte desta região concelhos como Évora, Portalegre, Sines, Beja, Aljustrel, Ferreira do Alentejo, Alvito, Serpa, Portel, Santiago do Cacém, Ourique, Castro Verde, Odemira, Estremoz, Redondo, Arronches, Borba, Monforte, Campo Maior e muito mais.

Já o Ribatejo pode considerar-se, pela sua localização, o coração de Portugal. Cruzada pelas melhores vias rodoviárias e ferroviárias, é nesta região que se encontra o Portugal de Norte a Sul, tendo o Rio Tejo como elo de união. Com uma centralidade geográfica única, abrindo-se ora às montanhas das Beiras, ora à brisa do mar do Oeste, ora às planícies do Alentejo, o Ribatejo faz fronteira a norte com o Pinhal Litoral e com o Médio Tejo, a leste com o Norte Alentejano, a sul com o Alentejo Central e a Península de Setúbal e a oeste com a Grande Lisboa e o Oeste.

À beleza desta miscelânea de paisagens aliam-se o património monumental e arquitetónico e as tradições ribatejanas, onde são presença obrigatória o touro, o cavalo, o campino e o fandango. Tudo isto acompanhado pela sua deliciosa gastronomia e os vinhos de excelência. Constituem o Ribatejo os concelhos de Santarém, Rio Maior, Cartaxo, Alcanena, Constância, Abrantes, Tomar, Ourém, Entroncamento, Golegã, Almeirim, Alpiarça, Chamusca.

 Por:   Mónica Alexandre/Tinta Fresca

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