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domingo, 20 de abril de 2014

Cem Anos de Solidão

Por: Isabel Faria
Gabriel Garcia Marquez, nasceu há 87 anos o lugar de Aracataca na Colombia e faleceu esta Quinta-Feira na Cidade do México.
Entre uma data e outra, escreveu das maiores obras literárias de todos os tempos, teve que penhorar o aquecedor para poder enviar o original de Cem Anos de Solidão a um editor argentino, ganhou o prémio Nobel da Literatura, percorreu mundo, vibrou com revoluções, foi jornalista, perseguido pela CIA nos EUA, pelos seus laços de amizade com Fidel e a sua admiração pela Revolução Cubana, amou, teve filhos e um dia, há uns anos, perdeu a memória. 
Durante todo este tempo,  sempre mais vivos cada vez que voltamos a Macondo, a pequena aldeia imaginária do seu livro maior, Gabo encheu o nosso mundo de Buendias e Aurelianos, que foram passando dos nossos pais para nós, de nós para os nossos filhos, numa teia fantástica de imaginação e magia.
Crónica de Uma Morte Anunciada (1981), O Amor em Tempos de Cólera, (1985) ou O General no Seu Labirinto (1989) foram outras das suas obras com as quais muitos de nós se fizeram e aprenderam a "ler".
Em 1975, ano em que foi editado o livro que ele haveria de considerar o seu melhor livro, "O Outono do Patriarca", Garcia Marquez esteve em Portugal a fazer uma reportagem sobre a Revolução dos Cravos, para a revista Alernativa, jornal de Bogotá, fundado por si e por outros jornalistas de Esquerda.


É uma relato emocionado e entusiasmado sobre o Verão Quente. Gabo fala dos portugueses que com tanta alegria deixaram de "parar nos semáforos",  dos encontros com Vasco Gonçalves  "o coronel, Primeiro-Ministro" que não sabia "de ciência certa se era comunista", descreve Lisboa como a maior aldeia do mundo, onde "toda a gente fala e ninguém dorme" (aliás, acaba por vacinar que se a Revolução falhar é por causa da conta da eletricidade, pois as luzes do escritórios, das casas e dos Ministérios, ficam acesas a noite toda!) e termina a sua última crónica afirmando que está convencido que os portugueses conseguirão inventar e fazer o "socialismo à portuguesa".
Há uma altura, numas destas suas reportagens para a Alternativa em que questiona "o que pensará de tudo isto o povo?".
Muitos anos antes, em 1967, termina assim os Cem Anos de Solidão: à familia Buendia "não será dada uma segunda oportunidade sobre a terra". 
Possivelmente a nós também não. De qualquer forma poderemos sempre contar aos nossos netos que o homem que aprendeu a escrever com a sua avó Tranquilina que lhe contava histórias mágicas de fantasmas e almas penadas e com o seu avô Nicolás que lhe contava histórias nada mágicas de guerra e mortes, um dia escreveu que acreditava em nós. Que nós éramos capazes.
Quanto a Gabo, a esta hora deve estar com Saramago e com Blimunda a ouvir Aureliano Buendia contar do dia em que, ainda menino, descobre que o gelo queima. ou de como se voltou a lembrar disso, muitos anos depois, perante o pelotâo de fuzilamento.

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