.

.

.

.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALPIARÇA: INTERVENÇÃO DE MARIA GABRIELA COUTINHO, pela bancada do PPD/PSD-MPT/TPA

25 de Abril de 2014 - Novo Auditório da Casa dos Patudos 
INTERVENÇÃO DE MARIA GABRIELA COUTINHO, pela bancada do PPD/PSD-MPT/TPA



Exmº Sr.Presidente
 da A.M.
Exmº Sr Presidente da C.M.
Exmºs Srs Deputados Municipais
Exmº Sr. Presidente da A.F.
Exmª Srª Presidente da J.F.
Exmºs Srs Vereadores
Comunicação Social
Convidados
Amigos Alpiarcenses
Comemora-se hoje o quadragésimo aniversário do 25 de Abril.

Para quem, como eu, viveu mais de 20 anos numa ditadura que nos  emudecia, que nos levava até às prisões para visitar familiares e  amigos, que nos impedia de expressar, mesmo cantando, os sentimentos  que nos enchiam a alma, o dia 25 de Abril não se pode definir apenas  por palavras.
O sentimento de quem, como eu, o sonhou em silêncio, o viveu, de quem,  como eu o cantava clandestinamente anos antes, nas canções de Adriano  Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Luís Cília, Sérgio Godinho, entre  outros, é um sentimento tão intenso como o de parir um filho.
Fui educada assim, educada para me indignar contra as ditaduras,  contra a falta de liberdade e contra a falta de respeito pelas  opiniões alheias, mesmo que discorde delas.
A Liberdade é um estado de alma sem dono, um bem que todos devíamos  cultivar sem hipocrisias, respeitando os outros como gostamos de ser  respeitados. A Liberdade é tudo o que eu vos quero dar e quero receber  de vós. Sei que há muitos que não conseguem ser livres e ainda vivem  dentro da sua própria prisão sem conseguir libertar-se e respeitar opiniões diferentes. Mesmo esses merecem o respeito de quem se sente  LIVRE.
Nem todos são capazes de ler o que vêem porque se deixam encantar pelo  canto de uma qualquer sereia que lhe tolda a visão pela comoção das  palavras falsas. Para esses o nosso carinho porque são os poetas com  alma de criança.
Neste dia com tanto significado e tanta dificuldade em o qualificar,  não vou evocar ninguém em particular. Para mim, há tantos homens,  mulheres e até crianças que sofreram para que este dia acontecesse,  tantos que arriscaram a vida, que abandonaram tudo, que morreram para  que esta democracia se consolidasse...De uma ou outra forma houve  muitas diferenças que se uniram neste objetivo que foi, é e será a  consagração da LIBERDADE. LIBERDADE, grito que muitos sufocaram na  garganta, que se pôde sentir ao longo de muitas vidas sofridas, e se  gritou há 40 anos, nessa madrugada de Abril que floriu em PAZ.

Mas, hoje, essa liberdade conquistada não responde ao nosso sonho. A  falta de valores que se instalou na sociedade em que vivemos, deturpa  o espírito de Abril.
A verdade, a honestidade, a solidariedade e o respeito têm sido cada  vez mais postos em causa. Prometeram-nos um mundo próspero e  civilizado mas convenceram muitos de nós que esse mundo se construía  sobre sonhos em que não era preciso trabalhar para ser rico e,  consequentemente, feliz, Como se a riqueza material pudesse ser  sinónimo de felicidade… Muitos acreditaram e morreram desiludidos.
Outros vivem a poder gritar com o grito que Abril nos trouxe mas sem  que ninguém os ouça.
E é nesta ditadura que não é de esquerda nem de direita, nesta  ditadura que nos é imposta em nome da liberdade, que continuamos a  estar presos por amarras que não são visíveis mas que existem e tornam  mais difícil o combate. É uma ditadura dos oportunistas e dos  corruptos. Uns, porque não olham a meios para atingir os seus fins e  outros que se aproveitam dos cargos que ocupam para negociarem as  nossas vidas.
Mas, embora com algum grau de pessimismo próprio da minha idade, não  aceito ser mais um "vencido da vida". Quero transmitir esperança,  quero acreditar num futuro sem profetas da desgraça. Quero acreditar  que as gerações vindouras vão cultivar os valores que se perderam pois, sem eles, nunca serão verdadeiramente livres.
E, para terminar, vou ler um poema de Fernando Pessoa que retrata bem  o estado nebuloso em que o nosso país se encontra, não deixando, no  entanto, de ser um grito de esperança que vos quero transmitir.

"Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!"

É a hora de começar um novo ciclo. Deixo aos mais jovens esse desafio.
Um abraço a todos, em nome da bancada a que pertenço.

Viva a Liberdade
Viva a democracia
Viva Alpiarça