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domingo, 24 de agosto de 2014

As vivências Avieiras – Assentamentos avieiros

Como já se referiu, em Crónica anterior, os Avieiros com o decorrer do tempo foram-se fixando, definitivamente, nas margens do Tejo.

Por: Lurdes Véstia (*) 

São várias as causas apontadas para esta fixação e como refere Maria Adelaide Salvado “ (…) cá davam-se melhor, porque adoeceram dos pulmões e lhes fazia mal o ar do mar”. Com a fixação definitiva, surge a necessidade de encontrar um lar mais estável, resistente e confortável”.



Aldeia Avieira de Obras (Azambuja) 1941

Pouco a pouco na Borda d´Água Tagana começam a erguer pequenas barracas totalmente construídas em caniço e logo que as condições económicas o permitiam começavam a comprar madeira; aos poucos iam construindo as suas pequenas casas em comunidades de características muito peculiares. Assim se foram, aos poucos, fundando os assentamentos Avieiros. “ (…) pequenas, talvez para que as não vissem, ou tímidas para que não as mandassem destruir. Ou pequenas e tímidas por causa dos materiais e das agruras do tempo”.



Casas Avieiras em caniço. Mouchão de São Braz – Chamusca

As primeiras habitações nas margens do Tejo foram semelhantes aos palheiros de Mira e da Praia da Vieira de Leiria, a referência mais antiga e conhecida de palheiros data de 1875. A maior originalidade deste aglomerado de pescadores era exactamente a sua arquitectura de madeira onde as casas chegavam a atingir dois e mesmo três andares, possuindo dimensões não encontradas noutras praias e formavam a quase totalidade da povoação até ao final dos anos 60. Mais tarde transformaram-se em construções palafíticas, elevadas do solo e sustentadas por estacas de madeira ou por estacas de pedra, dependendo da zona onde queriam construir a casa, mas sempre para a manter acima do limite da água em época de cheias ou da subida das marés.



Palheiros da Praia de Vieira de Leiria, demolidos na década de setenta do séc. XX

Pela descrição de uma Avieira que entrevistei, as cozinhas eram construídas em madeira e exteriores às casas, diz ela que era ” (…) por via do fumo e essas coisas…”.
Existem descrições que dão conta que os pescadores Avieiros levantavam estas construções e as mudavam da localização original, para outra mais abrigada ou adequada, de modo a garantir maior conforto ao núcleo familiar.
Os Avieiros apelidavam as suas próprias habitações de “barracas” sem que isso tivesse um sentido depreciativo mas tão-somente pelo aspecto que estas tinham, todas em madeira e bastante rudimentares.

 

Aldeia Avieira de Caneiras (Santarém)

O Capitão-de-mar-e-guerra Baldaque da Silva na sua notável obra “Estado actual das pescas em Portugal”, publicada em 1892, e com base nos dados do Inquérito Industrial de 1890, referencia os seguintes portos fluviais no rio Tejo: Vila Franca de Xira, Alcochete, Aldeia Galega, Muge, Santarém, Constância e Abrantes.
Esta obra oferece-nos importantes referências sobre a pesca no Tejo e os homens e mulheres que exerciam a faina, “(…) em determinadas épocas do ano é muito importante a pesca que se faz no rio Tejo, não só em todo o estuário do rio, desde a embocadura até Valada, mas também para cima, até muito a montante de Abrantes”.
Em 1978, no Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, a Dra. Maria Micaela Soares referenciava cerca de oitenta aldeias de Avieiros desde Sacavém até Abrantes.
Em trabalho de investigação, efectuado para a produção da obra Avieiros – Dores e Maleitas, no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Santarém, consegui referenciar os seguintes assentamentos no distrito de Santarém:
Almeirim - Vala de Almeirim, Benfica do Ribatejo, Casal Branco, Vale Tejolos, Azeitada
Alpiarça – Alpiarça, Patacão de Baixo, Patacão de Cima, Touco, Quinta da Torre, Torrinha, Gouxa, Vala Real
Azambuja – Porto da Palha
Benavente - Benavente
Chamusca – Porto das Mulheres, Porto do Carvão, Chamusca
Cartaxo -Valada; Porto de Muge, Palhota; Lugar de Sant´Ana
Coruche – Estação
Golegã - Azinhaga, Pombalinho
Salvaterra de Magos - Muge
Santarém - Barreira da Bica, Alfange, Ribeira de Str, Caneiras. Ómnias, Ponte do Vale de Str, Ponte Celeiro, Ponte Asseca, S. Vicente do Paúl, Vale de Figueira, Praias do Tejo.

Referências bibliográficas
Baldaque da Silva, António Artur, 1891, "Estado actual das pescas em Portugal". Lisboa, Imprensa Nacional.
Salvado, Maria Adelaide N. 1995, Os Avieiros, nos finais da década de cinquenta, Castelo Branco.
Soares, Maria Micaela, 1986, A cultura Avieira. Continuidade e mudança”, In Separata do Colóquio “Santos Graça” de Etnografia Marítima.
- Soares, Maria Micaela, 1997, Mulheres da Estremadura In Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, n. 83.

(*) Mestre em Educação Social

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